Permaneciam paradas há vários anos, encostadas num canto da garagem e sem qualquer utilidade prática. Dos mais velhos aos mais novos, ninguém lhes ligava. Há muito que tinham cumprido a sua missão e perdido a actualidade. Duas delas ainda tinham dínamo na roda da frente ...
Degradavam-se a olhos vistos, sentindo o peso da idade e a ausência de utilização. Comprovavam, como se necessário fosse, que é melhor ir fazendo alguma coisa, mesmo que seja pouco.
"Acrescenta sempre alguma coisa, disse o rato. E fez xixi no mar."
O homem da oficina já só a mantém para se distrair. O papel na montra refere que aceita bicicletas velhas.
- Vou-me entretendo. Recupero, devagar, que já não tenho idade para correr nem a foguetes. Não as mande para o lixo, como fazem muitos. Traga-mas que dou-lhe destino capaz.
Lá foram, de certeza com pena de abandonarem o poiso que tinha sido seu, em exclusivo, durante bastante tempo e sem ninguém a aborrecê-las. Não se queixaram. Quem sabe ainda lhes resta alguma curiosidade e espírito de aventura. Saíram de um canto e foram para outro, com companhia, onde irão aguardar que as mãos do homem as comecem a tratar e lhes dêem uma "vestimenta" nova, bem oleada, para voltarem a andar, correr e saltar como nos velhos tempos.
- Reparar custa quase tanto como uma bicicleta nova. Olhe que um par de pneus não custa menos de 35 Euros. Mas dá muito gozo ...
As justificações continuaram, apesar de, à partida, estar garantido que o negócio não envolveria qualquer montante. Afinal de contas, ganhei um espaço livre na garagem, que dá sempre jeito.
Até quando? O mais certo é ser ocupado de novo com algumas coisas daquelas que se guardam "porque podem vir a ser precisas". Um dia saem, como as bicicletas.
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