sábado, 11 de fevereiro de 2023

Sofrimentos

Ter as notícias à mão e no momento torna as tragédias mais violentas, ou melhor, impede que as ignoremos ou subvalorizemos. Não conseguimos evitar que nos causem dificuldades de entendimento, nos provoquem borboletas no estômago, nos façam desviar os olhos.

Não bastava a guerra na Ucrânia, que está quase a cumprir o seu primeiro ano, com muita gente que parece querer festejar a data, e surge um terramoto na Turquia e na Síria, nesta para juntar a uma outra guerra da qual já poucos falam e se mantém há mais de uma década. 

A lareira acesa, o jantar na mesa, o livro na mão, a música a tocar, o supermercado aberto e o cartão bancário pronto a mostrar-se à máquina (agora já nem se introduz), o carro cheio de gasolina, a roupa adequada ao frio ou à chuva, o mar ali a dois passos a convidar ao relaxamento, tranquilidade e paz, e perturbação, pouca ou nenhuma. O trabalho está feito e não tira o sono. O ordenado chega no dia aprazado, sem sobressaltos nem deslocações.

A televisão é ligada. A barbárie entra sem convite. O semblante fecha-se, os olhos condoem-se, a dúvida instala-se, a pretensa solidariedade aproxima-nos, não se entende o porquê, o sofá convida a pensar, a analisar, a achar e a dizer: não há nada que eu possa fazer ...

Embora possa parecer perto, foi lá longe, onde o sol não castiga tanto e o frio congela a água, não dando tréguas aos que restam em busca de alguma coisa que os possa aliviar. São muitos os que partiram sem dar conta da viagem. Muitos mais aqueles que carregam e vão continuar a suportar um sofrimento que, por muito que doa ver, custará muito mais viver.

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