segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Palhaços

Por esta época, vestia-se da cabeça aos pés com o rigor de um palhaço profissional. Roupa larga e colorida, nariz vermelho, rosto pintado de branco, sapatos enormes, um adereço na mão que tanto podia ser uma gaiola sem pássaro como um cujo dito sem ela. Todos os anos diferente no tema, nos pormenores, na forma, mas sempre palhaço. Era a sua catarse. Depois de um ano de trabalho, dois dias de folia, bem completos.

Este ano, embora já tivesse tudo preparado há muito, não o fez. A mãe partiu há pouco tempo e entendeu que lhe devia esse respeito, embora ela talvez tivesse opinião diferente. Decidiu assim, fez como lhe pareceu melhor, sem mágoas nem arrependimentos.

Ontem esteve a ver o desfile e encontramo-nos. Muita conversa, muitas recordações, muitas apreciações, muitas críticas. Já vimos tanta coisa que não é fácil a surpresa e difícil a concordância. No final, sério, desabafou:

- Já reparaste que não há um único palhaço no desfile?!

E era verdade. Nem um. Toda a gente mascarada, de tudo e mais alguma coisa e nem sequer um palhaço vestido a rigor.

Dos outros, havia muitos ... 

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