Faleceu ontem mais uma das "Três Marias" - Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. As três ficarão na história da literatura portuguesa e na da luta pela libertação das mulheres.
Resta Maria Teresa Horta e toda a obra de alta qualidade que as três produziram.
(...) Diz-me o advogado que evite reflexões políticas ou comentários à minha circunstância.
Mas quando começa a minha circunstância?
Era assim que deviam escrever no antigamente, sob a Inquisição, as polícias políticas, sob espia, um censor empoleirado no ombro, como um corvo. Mas talvez seja sempre assim, este acto contra o tédio e a insignificância, um acto a três: o autor, a surpreendente voz do escrito e o censor que é aquele que vai ler. Vertiginoso.
Sara dizia que era a minha profunda segurança que me permitia clamar no deserto, correr riscos. Até a segurança do meu nome, que suscita a deferência.
Faz vento. Oxalá estivesse na Torre do Bugio à escuta do clemente rimance do mar, que tudo sara.
Sara. Não mais musa. E muito menos linda. Haverá gusanos desafiando a cal? Queria ser enterrada debaixo de um cedro, a variedade Cedrus altlantica, que ascende em cone e tem flores machas, dizia. Aleixo nem sequer tentou, porque é muito desprendido com o corpo dos mortos; tê-la-ia incinerado, se fosse prática que a igreja aprovasse. (...)
Maria Velho da Costa
Missa in Albis
Dom Quixote (1988)
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