domingo, 10 de maio de 2020

Nogueira

As primeiras laranjas, enormes, sumarentas, surgiam nas suas mãos. E exibi-as com um orgulho e uma ironia de fazer inveja a qualquer "santo".
- Querias? São da minha nogueira ...

Ainda as nêsperas não tinham chegado ao lugar de venda, já ele as trazia, amarelinhas, sem qualquer marca de míldio, e mostrava os seus dotes de atirador, arremessando os respectivos caroços a uma distância considerável.
- Querias? São da minha nogueira ...

Os pêros encarnados eram comidos primeiro à dentada e depois descascados com a pequena navalha que trazia sempre no bolso. Aquele sumo, pela certa meio acre, fazia crescer água na boca ao mais insensível.
- Querias? São da minha nogueira ...

As maçãs reinetas, pardas, redondas e achatadas, apareciam nas suas mãos muito antes de se imaginar  já estarem maduras. E ele, guloso, deliciava-se a saboreá-las devagar, com requinte e exibição.
- Querias? São da minha nogueira ...

Até os figos, que estavam por ali à mão de todos, chegavam suculentos e muito antes de os vermos a abrir.
- Querias? São da minha nogueira ...

E a uva, Moscatel, também aparecia ainda antes de a Fernão Pires "vergar", exibida em cachos enormes e de bagos verde acastanhado, doces pela certa e a cada trincadela mais deliciosos.
- Querias? São da minha nogueira ...

Como é possível a nogueira dar todas as frutas, de tão boa qualidade e sempre antes do tempo?
Conversa que não se entendia, dúvida que permanecia, até um dia ...
Afinal era simples: conhecia todos os pomares e árvores da região e iniciava a colheita antes mesmo de os donos perceberem que já havia fruta madura ... 

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem seria o espertalhão??