segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Caixa de Previdência

O assunto era importante e tinha que ser tratado directamente na Caixa de Previdência de Leiria, como, à época, se designava a actual Segurança Social. Havia sido feito um contacto telefónico, que redundou em fracasso e cuja resposta, áspera, foi que não era assunto para tratar pelo telefone. 

Embora, à socapa, já conduzisse, não havia o papelinho que desse legalidade a essa função. Estava fora de escolha a possibilidade de deslocação com motorista e, por isso, a opção foi a viagem de comboio, que partia de manhã, bem cedo, da estação das Caldas.

Não houve problemas na partida, mas o mesmo não iria acontecer para a vinda. Conhecia a cidade de Leiria, não muito bem, diga-se, mas nunca lá tinha ido de comboio. A chegada à estação foi uma surpresa: situava-se bem longe da cidade que eu conhecia e da qual não se vislumbrava nem um prédio. O homem que usava um boné da CP foi a solução para o esclarecimento necessário

- Apanha a camioneta da Leiriense e ela leva-o.

E assim foi, sem necessidade sequer de comprar bilhete. A Caixa de Previdência era quase em frente da garagem dos autocarros e, por isso, foi chegar, atravessar a avenida e subir ao primeiro andar, depois da devida identificação no piso térreo. O assunto foi começado a tratar de manhã e só foi terminado quase no encerramento dos serviços. Pelo meio, um almocito leve, num restaurante das imediações, numa cave meio escura e cheia de gente.

Para o regresso, já não foram precisas perguntas. A camioneta, azul, estava de motor a trabalhar, dizia "Estação" e estava quase completa. Ouviam-se comentários sobre o atraso e a hipótese de não chegar a tempo à estação. Partiu, finalmente, e chegou logo, logo, bem mais rápida do que tinha acontecido de manhã. Era a descer ...

A automotora, tal como tinham previsto os clientes habituais, já estava na gare, e toda a gente se precipitou, a correr, para a apanhar. Era leve e fui dos primeiros a entrar e a sentar-me, confortavelmente, no banco de napa. Ouviu-se o apito e o comboio iniciou a marcha.

- Está a andar para norte?! Mas eu vou para o sul ...

E estava. O revisor, com o boné da CP, confirmou e esclareceu:

- Vai ser complicado. O cruzamento com a que vem para baixo é feito na estação de Monte Real, mas quando esta chegar, a outra parte, e não dá tempo para a mudança.

- Mas eu tenho que ir para as Caldas!

- Vou dizer ao maquinista para parar no próximo apeadeiro e sai aí. Depois, terá que fazer sinal à automotora para parar, porque o apeadeiro não é de paragem obrigatória.

A ansiedade era muita. No meio do nada, sem ninguém por perto, mas ... eis que surge o bicho.

Os braços agitaram-se, com a pequena pasta numa mão e o jornal A Bola na outra. Notou-se a marcha a abrandar e parou, felizmente.

Julgo que voei lá para dentro sem sequer tocar com os pés nos degraus!

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