terça-feira, 17 de novembro de 2020

Simpatia e burocracia

À entrada, o aviso manda aguardar pelo segurança naquele local, cumprindo o distanciamento determinado e indicado no chão, com circunferências coladas. O segurança está a atender três jovens ao balcão. Demorou muito pouco e dirigiu-se a mim, cumprimentando-me e perguntando em que pode ajudar.

- Venho tratar do assunto desta carta.

Verifica o papel que lhe exibo e, de imediato, informa:

- Vire ali à esquerda e, depois, entre na primeira porta. 

Assim faço. Logo à entrada, um cartaz, grande, identifica "BALCÃO +". Três postos de atendimento, vazios. Todos têm acrílico e um deles, que tem pendurado o aviso de ser destinado a grávidas, deficientes e idoso, tem uma cadeira. Na parte de dentro, um pouco ao lado dos postos de atendimento, uma senhora sentada na frente de uma secretária imersa em papéis. Lá ao fundo, dois funcionários já entradotes, discutem um problema informático, muito importante e difícil, pelo menos a julgar pelo que vou ouvindo.

- Bom dia.

Ninguém responde. A senhora da secretária, talvez incomodada com o meu olhar, entende, daí a algum tempo, que eu mereço uma explicação. Diz, de forma eloquente e esclarecedora:

- Aguarde um momento.

- Obrigado.

Passam mais uns minutos e eis que surge, da rua, um homem em passo vagaroso e ar contrariado. Com ar de quem sabe tudo, dirige-se ao posto onde aguardo, tranquilamente. Tenho tempo ...

- Diga!

- Bom dia.

Silêncio.

- Venho entregar esta carta, para responder a este ofício do Tribunal. Trago aqui uma cópia, para confirmar que recebeu o original.

Mira tudo com uns olhos experientes, de quem sabe daquilo a sério. Coloca a carta no monte dos assuntos  a tratar, presumo. Vai lá ao fundo buscar um carimbo que usa para certificar a cópia. Devolve-a sem uma palavra, um esgar, um sorriso.

- Bom dia e obrigado.

Ninguém me liga. Os dois mantêm a discussão informática, a senhora continua assoberbada nos papéis, o "atendedor" senta-se, por certo cansado com o trabalho que lhe dei, àquela hora da manhã. Sinto que fui perturbar o sossego de quem, com esta pandemia, ainda tem de trabalhar. E se o raio do velho nos traz o vírus, devem ter pensado aqueles pobres trabalhadores.

Voltei para casa e deliciei-me com as flores do meu jardim. Estão sempre a sorrir!



1 comentário:

Anónimo disse...

Não posso deixar de sorrir também!!!! Que esperavas tu, agora, ó idoso?