"O Partido Comunista é indispensável à democracia"
Podia não ser necessário mas, à cautela, o melhor era clarificar, calando idiotices que pairassem nalgumas cabeças. Nos últimos dias, o PC tem sido notícia em todos os orgãos de comunicação social, por virtude de realizar o seu Congresso, apesar da pandemia, ainda por cima num concelho - Loures - muito fustigado pelos números e com confinamento obrigatório. Os comentadores não se cansam de bradar que, apesar de não ser ilegal, o Partido devia dar o exemplo e não o realizar nestas condições. A tudo isso, o PC responde com o que considera serem ataques à liberdade e dizendo que a sua organização fará cumprir todas as regras da DGS, não expondo ninguém a qualquer risco, quer no interior quer no exterior do pavilhão onde a reunião magna se realiza.
A organização que o PC reivindica, e pratica, lembrou-me uma estória, muito "reaça", ouvida nos tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso), há quase meio século.
Dois amigos encontram-se no centro da capital e um deles, mal vestido, magricela, lamenta-se ao outro, a quem já não via há alguns meses.
- Estou muito mal. A vida não tem corrido bem e as dificuldades são muitas. Nem sequer consigo comprar umas botas para substituir estas alpargatas, todas rotas. As botas são caras e o dinheiro mal chega para a bucha.
- Não te posso ajudar. Também tenho dificuldades. Mas ouvi dizer que ali, no PC, dão botas a toda a gente. Vai lá!
E foi. Bateu à porta e uma voz solícita, cumprimentou:
- Bom dia, camarada. Em que posso ajudar?
- Ouvi dizer que aqui davam botas e eu necessito tanto de umas, disse, exibindo as alpargatas rotas.
- É verdade. E o camarada quer pretas ou castanhas?
De sorriso aberto e já a sonhar com umas botas novas, respondeu:
- Se me dá à escolha, prefiro castanhas.
- Então dirija-se ali àquela porta.
- Bom dia, camarada. Eu queria umas botas castanhas, por favor.
- De cano alto ou cano baixo?
Mais um sorriso e a resposta pronta:
- Cano alto!
- Ali, naquela porta à esquerda.
A satisfação era visível quando cumprimentou mais um camarada.
- Bom dia, camarada. Eu queria umas botas, castanhas, de cano alto.
- Com fecho ou sem fecho?
- Com fecho, claro, que já estou a ficar velhote!
- Então é ali, naquela porta ao fundo.
- Bom dia, camarada. Queria umas botas, castanhas, de cano alto e com fecho.
- De salto alto ou rasas?
- De salto alto, que pequeno já eu sou!
- Ali, naquela porta à direita.
Abriu a porta indicada e achou-se na rua, de novo junto ao amigo que lhe dera as indicações.
- Então, deram-te as botas?
- Dar não deram, mas lá organizados são eles!
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