quarta-feira, 26 de maio de 2021

Caminhadas conversadas

As conversas da caminhada das manhãs das quartas-feiras caem, inevitavelmente, em dois grandes temas absolutamente essenciais e de fino recorte: a actualidade e a antiguidade.

Na primeira, fala-se sobre política, economia, futebol, presente, futuro, o que vai ser disto, porque não se faz assim ou assado, parece que têm medo de tomar decisões, querem agradar a todos e não agradam a ninguém, estão preocupados apenas com o voto e tratam-nos como completos anormais; é uma vergonha o que se passa com os caloteiros, bens todos "ao fresco" e com aquela carinha de enjoados, vítimas da injustiça, da incompreensão e do escárnio das gentes que não conhecem quão difícil é a vida (todos invejam o vinho que eu bebo, ninguém inveja os trambolhões que dou), são uns ingratos que nem valorizam os sacrifícios que fizemos para criar postos de trabalho, os tribunais demoram anos, há sempre mais um recurso, um apelo, um erro e o tempo a passar, já não vamos ver a solução; claro que foi penalty, viu-se bem na repetição, o árbitro estava a dormir e o VAR deve ter medo, não foi nada, o guarda-redes nem lhe tocou, ele mandou-se para o chão, ainda a perna vinha longe e já se ouvia o grito, gosto é de ver jogos estrangeiros, não há nada disto, afinal o Conceição já não vai para Itália e o Jesus vai ficar, que o "orelhas" já disse e o que ele diz é uma escritura ... sempre.

Ainda te lembras da loja, na esquina, junto onde é hoje o ..., quem lá trabalhou muito tempo foi o pai de Fulano, esse trabalhava no banco da rua das montras, não, no banco era outro, pai do Beltrano, lançava os movimentos nas fichas, à mão, claro, o caixa era o senhor M., enorme, sempre de pé, contava a "massa" e as anedotas ao mesmo tempo, não havia computadores, o primeiro que apareceu foi o Spectrum, programámos a bandeira desfraldada, lembras-te, e a seguir veio o, já não me lembro da marca, tinha disquetes de 5 1/4", era muito mais rápido, depois, bem, depois já foram tantos, cada um melhor que o anterior e olha que ainda me lembro de ir ao INE ver um enorme, na cave, que funcionava com cartões perfurados, trabalhava lá o Q., eu devia ter treze anos, se contares isto agora aos netos, dizem que és do tempo da pedra lascada ...

- Finalmente! Já estávamos fartas de esperar. Põem-se na conversa e nós aqui, temos mais que fazer. Param por tudo e por nada e a gente que espere ...

A caminhada chegou ao fim e as reprimendas também. Cada um foi para o seu carrinho e seguiu a vidinha, que se faz tarde para o almoço. 

Para a semana há mais ... do mesmo. Velhos!!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Cuidado com elas... ponham-se na conversa e depois vão ver...