domingo, 23 de maio de 2021

Confusão

As noites de sábado eram as que não tinham relógio, permitindo alguns desvarios, por ser possível dormir a manhã na cama, no dia seguinte. Havia programa quase sempre combinado antecipadamente, para que todos estivessem preparados e o pudessem alterar livremente. Com alguns "cobres" na algibeira, poucos, mas suficientes para a gasolina e para beber uma cervejita ou duas, a noite era sempre um prodígio de sensações. Não havia muita escolha mas procurava-se uma aventura diferente e, tanto quanto possível, interessante para todos.

Dessa vez coube a Peniche ser distinguida com a presença do grupo. A ainda, nessa altura, vila, era um destino mais ou menos costumeiro, pelas diversões que a noite de lá proporcionava e pela qualidade dos camarões ou, em dia de festa, das sapateiras, que se podiam saborear, no Gaivota ou no Patriarca, "tascas" mais comuns para esses vadios.

O regresso já se deu a desoras, mas ainda longe do sol aparecer a iluminar os campos, situação que algumas vezes, poucas, aconteceu. A meio da viagem, um dos convivas sofreu o "ataque" da cerveja e pediu que o carro parasse, para libertar o líquido que lhe perturbava o bem-estar. Saltou a berma, para que o "assunto" tivesse alguma reserva e, logo de seguida, gritou:

- É um meloal!

- Apanha meia dúzia. Vou abrir a mala para os pores lá.

O frio da noite, tão comum no Oeste, de Verão e de Inverno, aconselhava o interior do carro. Aliviado, o companheiro apanhou quatro ou cinco melões ( ou seis ou sete, já não recordo) e colocou-os na mala do carro, tomando, de seguida, o seu lugar na viatura.

A viagem continuou até ao fim, sem quaisquer outros problemas ou necessidades.

No destino, a mala foi aberta para que cada um levasse um ou dois melões para sua casa, distribuindo-se, de forma equitativa, o produto do "rapinanço". Os candeeiros iluminavam bem o local da paragem e o conteúdo da mala saltou à vista de todos.

- Tens de ir ao médico da vista! São abóboras!

Imagino que o problema não foram os olhos e o mau funcionamento dos mesmos. Há líquidos que, bebidos em demasia, provocam a bexiga e, muitas vezes, algumas alucinações.

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