Foi-me oferecido por um amigo, comemorando o meu recente aniversário. É um livro para quem tem "o vício dos livros" e, lido, vai juntar-se aos restantes do mesmo autor, escritor da "nova vaga" de quem já li vários e de quem gosto muito.
LIBERDADE
Num jardim público, na cidade do Kuwait, algumas mulheres completamente cobertas, vestidas de negro (de niqab) faziam jogging com uma pequena carteira a tiracolo e umas sapatilhas coloridas de marca (a única coisa visível, além da carteira). Habitualmente, o clima não é propício a qualquer actividade ao ar livre: no Verão chegam a estar sessenta graus. Estávamos em Dezembro, por isso, era possível correr nos jardins.
Ali, o ar livre é, durante uma boa parte do ano, uma miragem no deserto, e as pessoas vivem cercadas de ar condicionado, dentro de edifícios de escritórios, arranha-céus, centros comerciais, automóveis, por isso, andar pelas ruas é uma espécie de luxo confinado a uma temporada curta, tão curta que não é capaz de cimentar rotinas, apesar das tentativas.
Caminhei pelo centro da cidade com uma escritora, bastante famosa no mundo árabe, que havia conhecido dias antes e que, ao contrário da esmagadora maioria das mulheres suas conterrâneas, usava calças e os cabelos destapados. No souq, passamos por uma loja que tinha roupas penduradas à porta. Ela apontou para essas roupas, daquelas que tapam, todo o corpo, e disse: "já fui uma mulher destas".
Tinha sido casada, durante mais de uma década, com um homem de uma família muito conservadora, teve dois filhos e depois divorciou-se. O que aconteceu? perguntei eu, e ela respondeu que se libertou. Como? Insisti.
- Comecei a ler e libertei-me.
O vício dos livros
Companhia das Letras (2021)
1 comentário:
Há vícios que valem a pena. Ler, é um excelente vício.
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