sábado, 11 de dezembro de 2021

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...) Assistíamos juntos aos jogos do Bayer Leverkusen. Ele costumava dizer que os presidentes dos clubes de futebol estão completamente errados. Insistem em contratar treinadores, quando qualquer adepto sabe muito mais do assunto. Pareceu-me uma ironia que funcionava então e que continua a ressoar nos dias de hoje. Basta entrar num café e perguntar como vai o Benfica, o Sporting ou o Porto, que aparecem treinadores com um copo de três na mão e palito na boca, ou mesmo, como agora, de fato e gravata na televisão, que evitariam contratos milionários pondo tudo a trabalhar na perfeição, graças às análises óbvias feitas a posteriori. Nós também éramos assim, claro, a História compreende-se de trás para a frente e é hermética em relação ao futuro. Compreender o que passou e o que deveria ter sido feito é relativamente fácil, o que é difícil é imaginar todos os "ses" possíveis que o futuro nos coloca, e, dizia, nós, como qualquer outro adepto, sabíamos perfeitamente quais os jogadores que deveriam jogar e quais deveriam ficar no banco ou ser vendidos, que estratégia usar, com que perna determinado jogador deveria rematar ou driblar, sabíamos tudo, era um bom tempo, esse em que sabíamos tudo com toda a certeza possível, hoje já não consigo ter certezas sobre nada. Acho que compreender o futebol era um treino para compreender a vida. Ao perceber as jogadas possíveis, as intenções, dissimuladas em fintas ou abertamente provocadoras ou explícitas, compreendíamos as relações entre as pessoas e, ao olhar para o jogo como um todo, também percebíamos a vida como um todo, desde a tristeza inalterável do resultado negativo até à euforia do triunfo esporádico. É a idade que corrói esta felicidade, não é?(...)"

Sinopse de Amor e Guerra
Afonso Cruz
Companhia das Letras (2021)

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