quarta-feira, 4 de maio de 2022

Batatas

- Os fetos estão cada vez maiores. Podemos apanhá-los e ir fazer a cama às batatas.

Era assim: apanhavam-se os fetos, sempre os maiores, e fazia-se a "cama" para as batatas no espaço da casa que pudesse estar desocupado dois ou três meses. O soalho era coberto com os fetos e, por cima, colocavam-se as batatas novas, bem espalhadas para que não ficassem sobrepostas, cobrindo-se com uma nova camada de fetos. As portadas eram fechadas, para que a luz do sol não entrasse. O objectivo era impedir que as batatas grelassem para, assim, durarem o tempo necessário a serem consumidas. Eram retiradas, à medida das necessidades, com cuidado, para que os fetos não destapassem as que ainda ficavam a aguardar a sua vez de serem consumidas. Não havia, nem podia haver, desperdício. Com a comida não se brinca ...

Os velhos lembram-se de cada coisa. Alguém, com dez réis de testa actualizados, conversa a ligar fetos a batatas, a grelos e ao desperdício. Gente tonta. Qual é a necessidade? Está tudo ali, com saquinho, na primeira prateleira. É só puxar e pagar na caixa. Com cartão, claro!

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