Da farmácia saiu a mais velha e mais adiposa. Aparenta ser quarentona e muito atenta a tudo o que a rodeia. Os seus olhos perpassam pela paisagem e alcançam a outra num relance, ainda que houvesse quinze ou vinte metros a separá-las. Esta caminhava com alguma pressa, parecia mais nova e um pouco desengonçada, com os cabelos louros com raiz castanha a esvoaçarem.
- Que surpresa! Ainda bem que vim à farmácia ...
Depois da efusiva troca de beijos, a necessidade de pôr a conversa em dia fez-se sentir e surgiram as perguntas da praxe, desde " o que tens feito", até ao "como estão vocês", passando pelo "com saúde, isso é qu'interessa".
Os decibéis são elevados e mesmo dentro do carro ouve-se e entende-se tudo sem qualquer dificuldade.
- 'Tá alguém doente?
Exibe a caixa do medicamento.
- É para o meu gato.
- E vende-se na farmácia?
A atenção redobrou, embora a aproximação e o volume o dispensassem.
- Claro! Até pedi à médica de família que me passasse a receita, mas a p..a respondeu que a lei não deixava.
- Leis do c.....o ...
- Já viste ... tive de pagar tudo!
O tempo, o corona, a praia, os preços, as férias que ainda não chegaram,
- Hoje 'tou de folga.
- Ta'mem eu!
tudo foi motivo de conversa gritada e a correr, que o tempo urge. O vernáculo sempre presente, para ilustrar a cena e demonstrar a quem ouve que as mulheres também o dominam. Haja igualdade ...
Despediram-se com grande entusiasmo, preconizando um próximo encontro com a presença de todos e uma boa patuscada.
- E uns copos valentes ...
- A gente precisa é disso!
Desapareceram tão depressa que nem tive tempo de aconselhar: talvez seja melhor pedir a receita à médica de família, não vá o vinho ser azedo e fazer mal ao estômago.
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