domingo, 7 de agosto de 2022

Bossa Nova

Faz hoje 80 anos e mantém vivo o fulgor da grande música brasileira. Caetano Veloso é um nome incontornável da história da música brasileira e, ao fim de tantos anos, continua a ser um artista de mão cheia e um homem que não cede a pressões.

Para além das músicas que se irão eternizar, como este Leãozinho, ainda se dedicou (e dedica) à escrita, com a qualidade bem notória na poesia e também na prosa, como evidencia este pequeno excerto e o resto do livro, lido há muitos anos, confirma.

(...) "Uma visita conveniente foi a que nos fez o Rei Roberto Carlos. Ele nos era, como já disse, grato pela revalorização que fizemos do seu trabalho. De passagem por Londres, quis nos ver. Ao atender o seu telefonema para marcar a visita, Rosa Maria Dias (então ainda mulher de Péricles, também morando conosco) não acreditou que fosse verdade e, ao render-se à evidência, chorou. Roberto veio com Nice, sua primeira mulher, e nós sentíamos nele a presença simbólica do Brasil. Como um rei de fato, ele claramente falava e agia em nome do Brasil com mais autoridade (e propriedade) do que os milicos que nos tinham expulsado, do que a embaixada brasileira em Londres (que não tinha contado conosco e, segundo nos contou um amigo que procurou por mim através dela, usava a meu respeito a expressão "persona non grata"), e muito mais do que os intelectuais, artistas e jornalistas de esquerda, que a princípio não nos entenderam e nos queriam agora mitificar: ele era o Brasil profundo."(...)

Verdade Tropical
Caetano Veloso
Companhia das Letras (1997)

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