quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Livros (lidos ou em vias disso)

Em português do Brasil, sem qualquer resquício do malfadado acordo e com a beleza que a língua portuguesa sempre tem, quando utilizada por quem sabe. Pouco importa se o autor é da África, da América, da Ásia ou deste cantinho europeu. Se for bem escrito, fica aprovado mesmo não havendo acordo.

"(...) Cinco, cinco e meia, é horário de saída das escolinhas do bairro. Bruninho tinha quase dois anos, averiguei quais trabalhavam com essa idade, encontrei duas nas imediações. Celso não teria matriculado o filho muito longe. Deixei o carro na rua e fui sondar a pé. Diante da primeira instituição, o pipoqueiro fritava pipoca com queijo coalho, pedi uma. Os pais se avolumavam com o portão ainda fechado, a outra escola ficava na rua de trás, achei que poderia ser lá e me apressei, no meio do caminho achei o contrário, a primeira reunia elementos que encantariam Celso, a mais próxima da sua casa, pequena, sem aglomeração de crianças maiores, adolescentes batendo mochila pelos muros, ambiente controlado, câmera onde dormem os bebês, piso antiderrapante, refeição inclusa na mensalidade com arroz, feijão, carne moída, chuchu, maçã raspada e as gotas sabor tutti frutti dos antitérmicos que as moças afáveis dão para os bebês dormirem ou pararem de chorar. Eu jamais induziria o sono do Bruninho. De volta à Arte do Crescer, o portão estava aberto, uma moça falava ao microfone avisando a chegada dos pais, chamava pelo nome. Vicente, berçário um. Camila, turma verde. Antônio, turma azul. As crianças vinham trazidas pelas professoras até a porta, pai nenhum entrava na Arte do Crescer. Nenhuma babá na porta, me dei conta de que Celso podia buscar Bruninho e me ver ao lado do pipoqueiro. Uma rechonchuda vinha com passos rápidos, nem corrida, nem caminhada, um trote, sapatilha branca, assim como a calça, a blusa e a tiara. Bruninho, turma verde. (...)"

A pediatra
Andréa Del Fuego

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