sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A guerra e a informação

Por aqui já foi referido várias vezes que sou leitor do Expresso desde 1973, sem que Francisco Balsemão saiba ou com isso se preocupe. Concordando ou discordando, com altos e baixos, vou cumprindo, com gosto, o ritual de o comprar, agora à sexta-feira. O sentimento que a coluna de Miguel Sousa Tavares me causa é similar ao que acontece com o jornal no seu todo: às vezes concordo, outras nem tanto, outras ainda, menos, discordo em absoluto.

Esta semana, Miguel Sousa Tavares explana a sua opinião sobre a guerra e, no final da crónica, ainda dá uma boa "bicada" no Mundial do Catar. Porque tudo é efémero e daqui a algum tempo, quando a guerra acabar - como espero e desejo eu - haverá muita gente a dizer que previu tudo, ficam por aqui uns excertos de um texto bem escrito, como sempre, e com opinião fora da caixa monolítica onde parece que uma grande parte dos opinadores caíram.

"(...) Que este estranho incidente tenha ocorrido quando os grandes do mundo estavam reunidos do outro lado do planeta e numa altura em que, em surdina ou a meia voz, se começou a ouvir falar da necessidade de encontrar um caminho para desbloquear a guerra na Ucrânia foi, decerto, uma coincidência, e não mais do que isso. Mas o que não é coincidência é a "precipitação" de Zelensky e de Stoltenberg: nenhum deles está interessado na paz e sentiram o perigo que os últimos desenvolvimentos internacionais trazem aos seus objectivos. (...)

Não há nenhuma contestação séria sobre quem foi o responsável último por esta guerra, sobre quem invadiu quem: foi a Rússia, de Putin. Diferente é a discussão sobre as razões que conduziram a tal, onde coexistem diversas versões e opiniões, e a discussão sobre o que foi ou não foi feito pelos poderes ocidentais para evitar a guerra: em minha opinião, nada. Mas, independentemente disso, repito o que já aqui escrevi: não me lembro de alguma vez ter assistido a um grande acontecimento internacional coberto com tamanha unilateralidade e falta de isenção jornalística e opinativa por parte da chamada "imprensa livre". Nunca vi tamanha promiscuidade entre propaganda e informação, tamanha falta de contraditório, de verificação de fontes, de "fact checking", de ir para além das aparências e do pronto a consumir, de procurar o que está escondido, de fazer as perguntas difíceis, de questionar a verdade oficial. (...)

E esta é a altura certa para tentar desbloquear uma guerra cuja continuidade sem fim à vista só interessa aos poucos que estão a ganhar milhões com ela à custa dos milhões que estão a ser sacrificados por ela. Até porque um dia é inevitável que aconteça um acidente com um verdadeiro míssil russo transviado, e aí já sabemos que há gente ansiosa por essa oportunidade de ouro para nos precipitar no abismo.

2. Vai começar o regabofe patriótico do Mundial. E para dar o exemplo a partir de cima, lá vão as três principais figuras do Estado fazer o sacrifício do Catar: PR, PM e PAR. E lá veremos também, no camarote de honra, o dr. Arnaut, presidente da Assembleia-Geral da Federação Portuguesa de Futebol e também presidente dessa outra instituição de bem-fazer que é a ANA - Aeroportos, uma empresa que actualmente reclama em tribunal €300 milhões ao Estado português por lucros cessantes durante a pandemia. Meus senhores, o que pensam que nós achamos disto?

Uma pausa na loucura?
Miguel Sousa Tavares
Expresso (18.11.2022)

1 comentário:

Anónimo disse...

O MST desde o início do mês de fevereiro que apostou tudo em como não haveria guerra. E perdeu. E ainda agora não percebeu o que quer e o que fez Putin. Como é de não torcer vai assim até ao fim…..