quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Qual lado?

Agora que a "guerra" se instalou no Brasil, com muita gente a ocupar as estradas e a bradar pela intervenção do exército, o conflito da Ucrânia passou, não para segundo plano, mas para um degrauzito abaixo.

O cepticismo, característica própria e comum dos velhos, garante que as coisas só podem piorar e que os dias que se aproximam vão ser de inverno rigoroso, mesmo que a Protecção Civil não emita alerta de nenhuma cor. 

Para agravar a situação e esclarecer bem quem não saiba, as televisões apresentam-se diariamente nos mercados, fazendo reportagens sempre muito interessantes e esclarecedoras.

- Bom dia. Em directo para a TV X, diga-me: já está a comprar menos peixe, não é verdade?

- Claro. Tem aumentado tanto ... 

- E também diminuiu a compra da carne, não é verdade?

- Pois ... está tudo pela hora da morte.

A câmara faz um grande plano e seguem-se as despedidas.

- Foi a reportagem possível, com toda a gente - compradores e vendedores - a queixar-se dos aumentos de todos os bens. É opinião unânime que, a continuar assim, não vamos a lado nenhum. Devolve-se a emissão aos estúdios. Boa tarde.

Fico intrigado. Pelos vistos, alguém teria programado uma viagem para mim e, agora, sem qualquer aviso, a mesma é anulada. Não vamos a lado nenhum,  de acordo com as palavras, singelas, do repórter de serviço e eu, submisso, sento-me no meu canto, aguardando que a guerra acabe, a inflação diminua, o vencimento aumente, o tempo melhore e os juros façam a quadratura do círculo, aumentando para quem recebe e diminuindo para quem paga, e o repórter determine, com o seu saber da experiência feito, quando me poderei deslocar a qualquer lado.

O meu sexto sentido alertou-me agora que o burro sou eu. Não entendi que o não vamos a lado nenhum era apenas uma figura de estilo. Estou mesmo velho!

1 comentário:

Anónimo disse...

E a viagem que eu tenho daqui a um mês? Já paguei tudo. E agora não vou?...
Ontem também se falou em vários santos, mas no Santo António, nem uma palavra. Tomei nota! Ele que partia a bilha às moçoilas... quando iam à fonte.