domingo, 6 de novembro de 2022

Escola imaginária

Tudo parecia indicar tratar-se de uma aula normal, igual a tantas outras daquelas em que se fazem resumos da lição anterior, se esclarecem algumas dúvidas e se transmitem aos atentos alunos alguns conselhos e afirmações tendentes a despertar interesses, catapultar desejos, fomentar estudo e trabalho, em suma, uma conversa cheia de palavras e vazia de conteúdos. Ou, como diria o outro, "para cúmulo da chatice, tanto falou e nada disse".

Parecia, mas não aconteceu. O senhor professor teria almoçado mal, passado uma noite em claro ou estar toldado com algumas das muitas preocupações que lhe devem consumir quase todos os recursos cerebrais e, do alto da sua cátedra, esteve desastrado e muito pouco feliz na forma como, perante uma assistência de alto gabarito, se dirigiu à aluna, advertindo-a sem aviso, sem dó e nem uma pontinha de piedade. 

- A menina fique sabendo que eu não lhe perdoo se não souber, de cor, a tabuada dos oito e os afluentes do Douro. Espero que a menina tenha tudo na ponta da língua e que, no dia do exame, ele apareça resolvido com cem por cento de aproveitamento. Não há desculpas para não executar o seu trabalho, tanto mais que só veio para a escola porque quis, não foi obrigada. E deixe-me também dizer-lhe que, se assim não acontecer, abro a gaveta da secretária, saco a régua que por lá está sempre à espera e as suas mãos não mais a esquecerão. Recomendo-lhe juizinho e, fique sabendo, na próxima quarta-feira, na reunião com o seu encarregado de educação, vou transmitir-lhe, tim-tim por tim-tim o aviso que agora lhe deixo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ai, se o mestre se atrevesse a tal, nos dias de hoje!... 🤣