Entrou na agência com ar de quem não se sente à vontade, apesar do corpanzil, enorme, de que era dono. O nervosismo era evidente e chamou logo os holofotes da atenção de quem tinha obrigação de a prestar ao que se passava.
- Bom dia. Faça favor ...
- Abrir conta ... patrão mandou.
Foi-lhe indicado caminho para a secretária. Sentado, ficou mais tranquilo e, apesar de não dominar bem a língua, falou sempre em português e conseguiu fazer-se entender.
- Ucrânia. Estou Portugal dois anos. Patrão novo, mandou abrir conta, receber ordenado.
- Tem o passaporte e o cartão de contribuinte?
- Sim, claro.
Abriu a carteira, retirou os dois documentos e disse:
- Não ri ...
Não percebi. Julguei que tinha utilizado o verbo rir por engano. O atendimento tinha sido normal, sem excessos, sem qualquer motivo para risos. Adiante ...
Abri o passaporte. A foto correspondia e, logo abaixo, lá estavam o nome e o apelido, em ucraniano e em inglês. Os olhos, que não pescavam nada do ucraniano, saltaram de imediato para o inglês.
- Surname: Camara
- Name: Fode
Registo feito, o banco ganhou mais um cliente, que se portou sempre bem enquanto por lá andei.
Eu, apesar de muitas vezes conversar com o homem, nunca consegui compreender a razão pela qual a falta de um acento circunflexo no apelido me haveria de provocar risota.
1 comentário:
Na Guiné Bissau o nome tem acento agudo no "e" e o sobrenome acento agudo no "a" final.
A culpa será do fuso horário?
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