sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Escadas

Com a facilidade própria dos cerca de quarenta, o homem sobe a escada, salta para o telhado e inicia a tarefa de que está incumbido, evidenciando destreza e causando inveja a quem já a teve e ainda imagina que ela se possa manter e permitir alguma veleidade.

O objectivo é verificar se haverá alguma telha partida, que tenha provocado a infiltração surgida na cozinha. Coisa simples. Difícil é conseguir ver as telhas partidas que se encontram na cabeça de muita gente que por aí anda ...

A escada está colocada, não mexeu nem um milímetro com a subida e os degraus desafiam a aventura, acicatada pela saudade de anos passados. No meu tempo ...

Sobe-se sem qualquer problema. Os olhos analisam o telhado, verificam o que quem sabe executa, extasiam-se com a paisagem que, daquele ponto alto e habitualmente inacessível, se consegue observar. Afinal, continua fácil ...

Está na hora da descida e os olhos, ao invés de continuarem a espreitar a paisagem no horizonte, resolvem dar uma olhadela lá para baixo, para aquele fundo que, estando perto, parece tão distante. Intui-se que não há qualquer problema, para quem nunca sofreu de vertigens ou outras coisas parecidas. 

O formigueiro aparece de imediato. As pernas não tremem, a escada não abana, mas surge uma sensação desagradável. Medo, receio, "cagufa", "treme-treme", inquietação ... O perigo pode estar à espreita, diz a voz instalada bem lá dentro, num sussurro que mais ninguém ouve. E se a escada escorrega? E se falhas um degrau? E se ...

Já não tens idade para subir escadas ... uma evidência!

1 comentário:

Anónimo disse...

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