Circunstâncias que não vale a pena trazer, agora, à colação, determinaram a ida à Bordallo Pinheiro, com o intuito de adquirir uma peça para ofertar. Levando cartão ou dinheiro, não é possível sair daquela casa sem algo. Ontem, uma vez mais, a regra foi confirmada.
Espero que o destinatário da peça dela goste e que, sempre que a olhar, recorde a forma como tratou do meu assunto, sendo certo que não conseguirá, nessa recordação, chegar à infinita gratidão que lhe hei-de manter. Numa das peças miradas e remiradas, saltou a referência a um poema de João de Deus, que não conhecia nem consta dos escaparates cá de casa. Fui à "enciclopédia" virtual e de lá o transcrevo, mantendo toda a actualidade de ter sido escrito há 130 anos.
DINHEIRODinheiro é tão bonito,Tão bonito, o maganão!Tem tanta graça o maldito,Tem tanto chiste o ladrão!O falar, fala de um modo ...Todo elle, aquelle todo ...E ellas acham-no tão guapo!Velhinha ou moça que veja,Por mais esquiva que seja,Tlim!Papo.E a cegueira da justiçaComo elle a tira n'um ai!Sem lhe tocar com a pinça;É só dizer-lhe; Ahi vae ...Operação melindrosa,Que não é lá outra cousa;Cataracta, tome conta!Pois não faz mais do que isto,Diz-me um juiz que o tem visto:Tlim!Prompta.N'essas especies de examesQue a gente faz em rapaz,São milagres aos enxamesO que aquelle demo faz!Sem saber nem patavinaDe grammatica latina,Quer-se a gente d'alli fóra?Vae elle com taes fallinhas,Taes gaifonas, taes coisinhas ...Tlim!Ora ...Aquella physionomiaE labia que o demo tem!Mas n'uma secretariaAhi é que é vel-o bem!Quando elle de grande gala,Entra o ministro na sala,Aproveita a occasião:«Conhece este amigo antigo?- Oh meu tão antigo amigo!(Tlim!)Pois não!
Poesias lyricas completas
João de Deus
Imprensa Nacional (M DCCC XCIII)
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