terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Sossego

No sossego desta rua de pouco trânsito, nada acontece. Ouvem-se os melros, os cartaxos, as rolas e alguns mais cujo canto o ouvido já não consegue identificar. Os gatos passeiam pelo quintal, preocupam-se com a adubagem das flores e a rega da relva, aproveitam os cantinhos ensolarados para uma sesta reconfortante, sempre de olho atento ao que à sua volta se passa.

A passagem de carros é rara. Quem trabalha, saiu de manhã e regressa no final do dia, estacionando à porta ou na garagem. São tão poucos ... Da meia dúzia que por aqui circula durante o dia, a maior parte enganou-se com a pressa ou distraiu-se com o telemóvel. Pelo combustível que se queima por aqui, o ambiente não se deteriora. 

Os caixotes do lixo "moram" na rua de cima e na de baixo, bem perto para serem utilizados e longe o suficiente para não serem cheirados. A avaliar pelo autocolante, a última lavagem já aconteceu há bastante tempo ou o papel não foi substituído. 

O bulício não entra! Não há crianças que joguem a bola, as poucas que aqui vivem saem de manhã e chegam no final da tarde, quando o sol já partiu para outro hemisfério. Os velhos aconchegam-se nas lareiras ou nos cobertores, o carteiro deixa o carrinho no cruzamento e uma das mãos chega-lhe para trazer a correspondência, a polícia nunca por aqui passa, por ter mais que fazer ... na esquadra. Até o sismo da noite passada, que parece ter sido sentido por muita gente, passou completamente ao lado e nem um tilinto fez.

Deixem-me sossegado!

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