Passam hoje 100 anos sobre o nascimento do grande Eugénio de Andrade.
Agora as palavras
Obedecem-me agora muito menos,as palavras. A propósitode nada resmungam, não fazemcaso do que lhes digo,não respeitam a minha idade.Provavelmente fartaram-se da rédea,não me perdoama mão rigorosa, a indiferençapelo fogo-de-artifício.Eu gosto delas, nunca tive outrapaixão, e elas durante muitos anostambém gostaram de mim: dançavamà minha roda quando as encontrava.Com elas fazia o lume,sustentava os meus dias, mas agoraestão ariscas, escapam-se por entreas mãos, arreganham os dentesse tento retê-las. Ou será quejá só procuro as mais encabritadas?O sal da línguaEugénio de AndradeAssociação Portuguesa de Escritores (2001)
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