quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Pânico

A partir de agora, qualquer pessoa que aterre no Aeroporto de Lisboa e não seja portadora dos documentos considerados imprescindíveis pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, já tem garantido o acesso a um "botão de pânico", instalado na sala para onde será conduzido e que, tudo o indica, será uma ferramenta essencial para que a recepção portuguesa seja um êxito.

O SEF assassinou, em Março deste ano, um cidadão ucraniano acabado de chegar ao nosso país, não num avião de guerra inimigo nem armado com metralhadora, mas sim num voo comercial, dos muitos que, em tempos, aterravam na Portela. Por alguma razão que me escapa, foi conduzido a uma sala "especial" e ali contemplado com uma recepção digna de qualquer filme sobre violência, mas protagonizado por energúmenos que se intitulavam polícias do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. 

Em consequência daquela morte, a Directora do SEF demitiu-se hoje, com nove meses de atraso; o Ministro da Administração Interna permanece no cargo, talvez para regulamentar e compilar as instruções sobre a forma e as condições de utilização do botão; até agora não se ouviu nenhum dos profissionais do SEF nem o Sindicato que os representa vir contestar a instalação do botão, o que indicia e admite a possibilidade de haver mais energúmenos sem controlo naquela polícia, capazes de repetir o feito.

O que se passou é indigno de um estado libertado em 25 de Abril de 1974 e uma ofensa a todos, e muitos foram, os portugueses que foram acolhidos noutros países. Tenho pena que António Costa não tenha impedido a instalação do botão e espero que não seja um precedente. Gostava de saber se o alarme estará ligado à Securitas ou a qualquer outra empresa de segurança ou se tocará no MAI.

Quero viver num país onde os orgãos sejam confiáveis e estejam ao serviço de todos os cidadãos. Não quero entrar num qualquer departamento policial e receber o livro de instruções para accionar o "botão de pânico", em caso de necessidade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Subescrevo, inteiramente.

Anónimo disse...

Quis dizer: subscrevo, inteiramente.

casulo disse...

uma verdadeira vergonha inqualificável, esse botão.