domingo, 20 de dezembro de 2020

Renas

Os progressos que o mundo tem conhecido são inegáveis e impossíveis de descrever num grande livro, quanto mais em meia dúzia de linhas mal alinhavadas como estas. Mas, ainda assim, pouca gente se lembrará que os comboios já foram a carvão, que os automóveis tinham direcção assistida "a braço" e que viajar de avião não foi sempre seguro e confortável, de tal forma que ninguém questiona a sua utilização e necessidade.

Porém, mas ou todavia, qualquer destas palavras serviria para abrir o parágrafo; deixemo-nos de floreados e vamos ao que importa: ninguém se preocupa ou disso dá mostra pública com a situação do Pai Natal e das renas, ambos sacrificados e sem benefício algum dos progressos que são comuns, hoje, a qualquer situação, profissão ou mecanismo.

De facto, desde o início do século XIX que o Pai Natal cumpre a sua função utilizando um trenó puxado por renas, num trabalho ciclópico que apenas os fusos horários atenuam um pouco. Sair da Lapónia, correr o mundo inteiro entregando prendas, sem o conforto de um bom banco almofadado, sem um GPS que indique o caminho e avise das condições metereológicas, sem ar condicionado que proteja do frio e diminua o calor, é um trabalho heróico. E, nas pobres das renas, coitadas, o sofrimento ainda é maior. Presas, açoitadas, sem comer e sem beber, ninguém as protege ou lhe faz justiça, reconhecendo o seu esforço e, no mínimo, remunerando-as em função do seu desempenho. Tudo isto agravado por ser hoje possível, sem qualquer dificuldade e com toda a eficiência, utilizar um drone, vindo da Lapónia ou de qualquer outro canto do mundo e fazê-lo chegar ao destino, sem falhas, perdas ou enganos.

Pensei: vou desencadear uma petição online para forçar a resolução urgente deste problema urgente e candente. Terei, seguramente, muitos milhares de cidadãos preocupados a subscreverem-na e talvez até o PAN proponha, na Assembleia da República, uma Lei que salvaguarde e regule os direitos, liberdades e garantias das pobres renas. Num ápice, concluí: estás perturbado ou o vinho que não bebeste ao almoço toldou-te o raciocínio. O Pai Natal não existe e as renas estão lá no seu habitat, protegidas por quem com isso se preocupa.

A imaginação é insuperável e, mantendo as tradições, ajuda-nos a viver, simplesmente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Hum!... Creio entender que, muito em breve, terá de desempenhar funções de Pai Natal. Vai daí, trata já de angariar benesses para o cargo. Trate bem das renas. Fique com Boas Festas!

Anónimo disse...

Como é que com esta idade ainda acredita no Pai Natal?