segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Medo

Dizia-me ontem um amigo com quem não estava há largos meses:

- Mal saio de casa. Tenho medo. Vou ao supermercado logo pela manhã e tento despachar-me depressa. Nem à praia venho ... calhou hoje, mas vou embora não tarda nada. Está a chegar muita gente.

Medo. Apesar do tempo decorrido, do número de pessoas já vacinadas, de as notícias transmitirem um pouco mais de esperança, continua a ser a palavra mais presente, mesmo quando não é pronunciada. O que se tem passado deixa marcas, obriga a questionamento, transmite insegurança, deixa dúvidas permanentes, e termina sempre com "E se?".

Vive-se um tempo difícil, que faz perder a paciência, se é que ela ainda se encontra por aí. Exasperamo-nos com as esperas, não tiramos os olhos de quem tem por missão desinfectar, receamos pegar no correio que o carteiro nos estende, aproveitando bem o comprimento do braço, duvidamos que a mão do empregado não tenha tocado na chávena. E a inversa, tal como na matemática, também é verdadeira. Será que este tipo não estará?

Há medo do vírus corporal e do informático, há medo das fraudes, dos contactos, do trânsito, do calor e do frio, do vento e da chuva, há medo dos fogos e do polícia, de tudo e de nada, transformando-nos em medricas, hipocondríacos, opinativos, "achistas", "melgas", egoístas, parvos, estúpidos, convencidos, cheios de certezas absolutas e de ausência de dúvidas.

- Eu não tenho dúvida nenhuma de que ...

Até quando? A ver vamos ... 

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