terça-feira, 23 de novembro de 2021

Canas

"Faz a festa, deita os foguetes e corre a apanhar as canas."

E faz muito bem. A festa dura dois ou três dias, os foguetes um minuto, no máximo, entre pegar-lhe, acender a mecha, vê-lo subir e ouvir: PUM!

A cana não. Tem utilidade. Não só a dos foguetes, utilizada para ajudar as plantas a crescer, amparando-as com todo o carinho, dos crisântemos às sardinheiras, dos brincos-de-princesa aos gladíolos, das rosas aos cravos túnicos. A cana-da-índia, por exemplo, era usada na escola como ponteiro, para assinalar no quadro as coisas mais importantes, e na cabeça de cada aluno, quando situava a serra do Larouco no Alentejo, o rio Mira no Minho ou o apeadeiro da Amieira na Beira Baixa. E a cana grossa? Um regalo. Servia como cabo da gancheta que impulsionava o arco nas corridas, ou para fingir um duelo diabólico, com espadeiradas de laivos ancestrais. Os mais habilidosos conseguiam até fazer flautas e delas extraíam sons, incipientes, é certo, mas que davam uma grande alegria pela conquista "impossível". 

Como os tempos mudam. Hoje a cana é um flagelo para o ambiente, nomeadamente junto aos rios, em cujas margens cresce sem qualquer controlo, abafando e destruindo toda a vegetação, fundamental para a conservação das margens. De vez em quando cortam-na sem lhe sacar a raiz, e ela, teimosa, regressa em pouco tempo. É terrível, essa cana!  

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa cana, é mesmo terrível.

casulo disse...

Ai que orgulho! Já podes vir fazer sessões de educação ambiental comigo!