quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Divagações sem nexo

A terra não era muito grande, embora aos olhos dos passarinhos parecesse enorme. Pintassilgos, felosas, rouxinóis, toutinegras, pardais, melros, tordos, verdelhões, tentilhões, todos achavam que aquelas terras não tinham fim nem a comida alguma vez havia de escassear mais do que já estavam acostumados. 

Os passarões, grandes, que voavam muito mais e bem mais alto, sabiam que a terra e os recursos eram finitos e, inevitavelmente, iriam acabar. Era importante estarem precavidos e terem presente que um segredo é muito difícil de manter mas, neste caso, era fundamental não o deixar violar, como acontece no da justiça. 

Apesar de voarem alto e não se misturarem com aqueles que, por força das circunstâncias, apenas conseguem voar um pouco acima do solo, e nem sempre, era necessário garantir que as notícias da morte anunciada fossem manifestamente exageradas (como a da morte do outro), para não haver alarmismos, nem gerar pânico ou revolta nos pequeninos.

Fez-se o plenário e toda a gente que nele participou disse de sua justiça e proclamou a necessidade imperiosa de resolver tudo, sob pena de os pássaros, grandes e pequenos, virem a ser dizimados. Os mais pequenos, com a representação que lhes cabe por força do tamanho, também tiveram direito a pronunciarem-se e a serem ouvidos, com algum desdém por parte daqueles que voam alto e percorrem grandes distâncias.

Ao fim de bastante tempo, a assembleia concluiu, de forma brilhante, que há necessidade de fazer qualquer coisa, alterar hábitos, costumes, meios ... mas não pode ser já.

Precisamos de tempo, proclamaram os grandes. Um dia destes, depois de estudarmos profunda e minuciosamente o assunto, convocaremos um novo plenário e decidiremos, todos, o que fazer no e pelo futuro.

À cautela, que o seguro morreu de velho, os pássaros grandes passaram a voar mais alto ...

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