sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Pedrinhas

Tenho visto, nas raras vezes que presto atenção aos anúncios televisivos, publicidade ao regresso dos relógios Cauny. Quando era jovem, ainda bem longe de a "outra senhora" ter sido corrida, um Cauny no pulso significava compra no contrabando, provavelmente a alguém que, andando embarcado, trazia meia dúzia para distribuir pelos amigos, a preços módicos para a categoria da peça. Havia algum cuidado na divulgação de como tinha sido obtido e quem era o vendedor, incorporando sempre uma sucessão de amigos do amigo do amigo do amigo de um outro amigo cujo nome nunca se tinha ouvido.

Não parece ter sido o caso de alguns militares que integraram as forças da ONU na República Centro Africana, os quais, alegadamente, como soe agora dizer-se, trouxeram umas "pedrinhas"  e como elas fizeram milhões de euros em vez de as distribuírem pelos amigos. As notícias trouxeram a lume, inicialmente, os, de novo alegadamente, crimes cometidos por meia dúzia de energúmenos que, à primeira oportunidade, revelam o que são e como, descaradamente, não prestam, muito embora saibam marchar "à comando" e até berrar o "grito de guerra".

Todavia, e como é costume, o tema principal deixou de o ser e o importante passou a ser discutir se era obrigação de A contar a B e se C devia ter sido informado, do Presidente da República ao Primeiro-Ministro, se a informação devia ter chegado a este e àquele, quem sabe até se a culpa não é do soldado que estava de quarteleiro-dia quando aquela gentalha fez o espólio, porque não examinou devidamente as calças e não confirmou se por lá teriam andado as "pedrinhas".

Perdemo-nos sempre em ninharias, concentramo-nos no acessório e deixamos o essencial. Parece não restarem dúvidas de que o culpado de haver alguns ladrões na tropa é o Ministro da Defesa e também o CEMGFA, que deviam ter descoberto a falta de carácter desta gente antes de os admitir e de lhes mandarem pagar o ordenado.

Tudo indica que, pelo menos, o Ministro terá de ir responder ao Parlamento por não ter contado aos sete ventos que havia averiguações em curso. Os, sempre alegadamente, ladrões, poderão invocar o direito ao silêncio e ficarem caladinhos frente ao Juiz.

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