O creme de barbear é verde, perguntou o meu interlocutor de todas as manhãs, olhando-me de frente, bem nos olhos e com um ar de dúvida sobre o que estava a ver. Verbalizou o pensamento e o espanto que me assaltavam, eu que tinha ido à prateleira do supermercado e trazido aquela embalagem sem me preocupar sequer em ler o que ela tinha escrito. As letras não eram muito grandes e os óculos estavam em casa, onde são absolutamente necessários para ler as pequeninas.
Peguei na embalagem e lá estava a explicação: gel de barbear e não creme nem espuma. Experimentei espalhar pela cara o bocadinho de massa verde que permanecia no dedo e, milagre, passou de imediato a espuma branca, explodindo por todo o lado e deixando a mão com uma quantidade enorme. Amanhã vou ter mais cuidado a carregar, para não haver desperdício. É feio.
O interlocutor do espelho ainda não tinha recuperado da surpresa. Ele, que se lembrava bem dos primórdios, do pincel sobre o sabão, da lâmina larga que exigia muito cuidado ao ser colocada na gillette, do salto para a bisnaga de creme mantendo a actividade do pincel, via agora este gel verdinho e fresco a espalhar-se pela cara toda com grande facilidade.
Matreiro e com o segundo sentido sempre na ponta da língua, não resistiu:
- Não percebo para que guardas aí o pincel. Podes deitá-lo fora. Já não serve para nada ...
Claro que ele tem razão, mas prefiro manter aquilo que me foi útil durante tantos anos. E o tubo do creme Palmolive ainda tem algum. Nunca se sabe se o gel não acaba de repente.
1 comentário:
O VERDE está em todo o lado.
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