segunda-feira, 13 de junho de 2022

Ilusões

Os olhos perscrutam o horizonte e apenas vêem uma mancha acinzentada, azulada, indefinida, sem nada que indicie haver por ali alguma coisa de palpável, muito menos umas ilhotas bem robustas e antigas.

Nem sinal das Berlengas, dos Farilhões, muito menos das Estelas ou das Desertas. Mas estão lá, disso não haja qualquer dúvida. Não é fácil de explicar a quem, pela primeira vez, se sente no areal da Foz e deite os olhos ao mar, cumprindo a sugestão de as descobrir.

- Não vejo nada. Estás a brincar ...

Não se movem, nunca, esteja o mar revolto ou mansinho. Escondem-se, de quando em vez, criando nova paisagem, ou aparecem mesmo ali à frente, quase à "mão de semear".

- As Berlengas, hoje, estão mesmo aqui. Se calhar, amanhã chove.

E no dia seguinte estão mais ao fundo, mal se distinguem no meio do oceano, confundem-se entre o céu e o mar, com vergonha de se exibirem. Logo no outro se distinguem perfeitamente, mas lá tão longe. 

A natureza tem destas coisas, incompreensíveis, alterando-se e forçando realidades que, não deixando de o ser, "vestem" hoje paletó e lacinho e amanhã uma bata suja, da cor do horizonte e nele bem embrenhada. Tal qual as pessoas, que tão depressa se fazem ouvidas e notadas, como a seguir se escondem em silêncios ensurdecedores, procurando transmitir que, afinal, não passam de uma ilusão, que não são o que foram e nem sequer por lá andaram. Todavia, olhando bem, está lá tudo, por mais que escondam.

E a culpa só pode ser da natureza!

1 comentário:

Anónimo disse...

Berlengas, Farilhões, vagas e vagalhões...