sexta-feira, 17 de junho de 2022

Integridade

Correndo o risco de ceder à demagogia e a alguns lugares comuns, mesmo assim ganha a teimosia de sempre, que espero se mantenha lúcida até ao fim.

Quem, mesmo sossegadinho, viveu sob a ditadura, não consegue compreender que exista gente, no auge da sua força e com acesso a quase tudo, a defender tempos idos e águas passadas. Muita dessa gente estaria condenada às portas fechadas, ao pescoço dobrado, à ausência de esperança, a morrer na valeta. Os pais de alguns deles, e os avós muito mais, nunca sonharam ser possível ver os filhos ou os netos ascenderem na sociedade, subindo alguns degraus na escada, mesmo que só até ao primeiro patamar. A esses, deixa-se claro que a escada da sua vida começou a fazer-se em 25.04.1974.

E aquilo que parecia impossível voltar a acontecer, alguns querem que regresse. Arreda, arreda, vá de retro, Satanás. 

Faz muita falta reflectir sobre o que já por aqui passou, como éramos e como somos, ou melhor, como se vivia e como se vive, apesar de ainda haver muita gente a vegetar. Com todos os defeitos que tem, a democracia abriu portas à discussão, à diferença, às possibilidades, à exibição do querer e da vontade, ao direito ao trabalho e à opinião, à revolta, à contestação, à paz. Haja paz e façamos um mundo melhor para todos. E aqueles que já moram no "primeiro andar" pede-se-lhes que não olhem com desprezo para a "cave" e não exibam as benesses de forma ostentatória e ofensiva para quem nada tem. 

Há muitos que nada seriam se a sociedade constituída por todos e para todos não lhes tivesse dado essa oportunidade, muitas vezes com o recurso a expedientes e malabarismos que deixam muito a desejar no campo da honestidade que se ouve apregoada. Talvez seja a altura de darem algo em troca, tendo presente que o dinheirinho traz alguma felicidade e ajuda muito, mas não compra tudo e todos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Continue teimoso e lúcido. E por muitos anos.
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