terça-feira, 26 de julho de 2022

À boca pequena

Não havia vento, o sol estava com aquele azul celeste que enche o olho e a temperatura amena, condizente com a época que atravessamos. O mar, como de costume, enganava-se e dava mil e uma voltas até se espraiar na areia, depois do perigoso "quebra-coco". Nunca há bela sem senão ...

A conversa está animada enquanto o corpo enxuga, sem precisar de toalha. Comenta-se como será amanhã, confirma-se que hoje está bem melhor do que ontem, presta-se atenção a alguns visitantes que arriscam a entrada sem as cautelas devidas a quem não conhece quão traiçoeiro é o "bicho". Acabam aos trambolhões, à procura das mãos e dos pés que, afinal, estão misturados com a espuma e lá ajudam o dono a levantar-se. E a conversa continua fluindo. Descamba para esse vício que de social passou a anti, por força do mal que causa a quem o pratica e aos que o suportam por osmose. Dos convivas, não havia um único que não tivesse alguma vez experimentado um cigarrito, ao contrário de mim que os devorei durante longos anos. Conheciam as marcas antigas, do Kart (dava quilómetros de prazer, segundo a publicidade da época)  ao Sagres, dos vários SG's ao Português Suave, do Definitivos ao Provisórios. 

Ao ser referida aquela última marca, a memória que já me vai traindo nas coisas mais comezinhas, trouxe à tona o que sobre ela se dizia, naquela época triste em que tudo tinha de ser dito à boca pequena.

- Provisórios não é uma marca de cigarros. Contém uma mensagem vinda de muito longe!

 - ???

- Portugueses republicanos, os vossos irmãos soviéticos ordenam retirada imediata oliveira salazar. 

Só os velhos conseguem compreender que uma "gracinha" destas tinha de ser dita à boca pequena. 

2 comentários:

Anónimo disse...

20 20 20

Casa da Ginja disse...

Poucas vezes fumei o célebre "Três vintes", mas recordo a pergunta sacramental à empregada do café:

- Três Vintes, tens? Então dá-me um Português Suave!