domingo, 17 de julho de 2022

Helicicultura

Na sua velocidade de caracol segue, atento, tudo quanto à sua volta se passa, com atenção precisa e tentando ter rapidez na acção. Os "corninhos" são as antenas de radar, sempre sintonizadas, e que lhe permitem fugir, à velocidade estonteante de caracol, dos obstáculos, encolher-se na casca quando o perigo se aproxima, observar a paisagem com amplitude completa, aproveitando bem as vistas interessantes, o que nem sempre acontece.

O caracol aproveita tudo e tenta usufruir, ao máximo, do que lhe é oferecido à vista, sem encargos nem regras, a não ser a que o obriga a estar atento às pisadelas, às desfeitas, às vinganças, a tudo o que a vida que o rodeia lhe proporciona, por mais que se esforce a ser-lhe indiferente. Não abre portas para atropelar os outros, sejam eles animais esquisitos, caracóis ou lesmas. Todos têm direito à vida que querem, gostam ou podem. As portas podem sempre abrir-se mas as correntes de ar deviam apenas constipar quem as abriu.

Apesar de todo o cuidado, de a pisadela o poder poupar e ser como o totoloto, que só sai aos outros, tem consciência que o mais provável é terminar num qualquer grelhador ou fogueira, ou refogado num tacho bem temperado. Para conseguir passar "por entre os intervalos da chuva" e resistir, tem de ser persistente, cuidadoso, paciente e, sobretudo, afortunado.

Qual a diferença entre a vida do caracol e a de qualquer outro animal? Responda quem souber, que eu não estou para aí virado.

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