segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Gaibéus

Vinham das Beiras, de terras cujos nomes nunca eram explicitados,

- Lá de cima ...

em grupo, sob as ordens, claras e rudes, do homem que os contratava e depois cedia para trabalhos agrícolas sazonais: a vindima, a ceifa, a plantação ou o arranque do bacelo.

Eram, habitualmente, cerca de vinte, dos quais um se dedicava a fazer a comida, tendo o horário reduzido em algum tempo, para esse efeito. A Quinta dava a maior parte dos ingredientes - batatas, couves, feijão, tomates, nabiças, algumas alfaces - e a lenha necessária para que o lume ardesse na lareira da cozinha da casa onde se alojavam, todos ao monte, como convém a quem sai dos seus sítios e se agrupa para "dar ao dedo". Sopa era o único prato garantido, nem sempre acompanhada do naco de pão com chouriço. Outro acompanhamento só acontecia quando, pressionado fortemente por todos, o "dono" deles lá cedia e comprava alguma coisa de mais substancial para o jantar, normalmente uns ossitos com carne reduzida, que o homem do talho cedia a bom preço.

Ao que constava, os homens não recebiam o valor pago pela Quinta ao "dono", e ainda tinham de descontar o valor atribuído ao alojamento, que não era cobrado, e à alimentação, também de borla para os mínimos. A Quinta pagava um valor diário por cada um dos trabalhadores e um valor global ao "dono", que superava largamente o salário de quem "vergava a mola". E o homem era um "gajo porreiro", que proporcionava àquela gente o regresso a casa com algumas notas no bolso ...

Já lá vão mais de cinquenta anos e ontem voltei a lembrar-me, ao ver e ouvir as notícias sobre muitos timorenses que para cá vieram ... dormir no Rossio.

1 comentário:

Anónimo disse...

E as rogas, nas vindimas do Douro.
O manageiro, o capataz, o "Senhor das terras", o explorador, os necessitados...