Estão os dois sentados numa das mesas do café. As vestimentas denunciam-nos como trabalhadores da construção civil, em plena pausa do almoço. Na sua frente, duas bicas que vão sorvendo em pequenos goles, sem pressas e completamente desconcentrados da tarefa de beber.
Um deles tem, ao lado da chávena, o telemóvel e, no ecrã, um jogo qualquer que o indicador direito mantém em actividade frenética e a coscuvilhice permitiu ver apenas com uma mirada. Sem olhar, a mão esquerda pega na chávena, leva-a à boca e fá-lo beber mais um gole.
O outro não tem na mão o moderno aparelho - deve tê-lo no bolso - mas sim uma moeda, que lhe permite desvendar, com alguma violência, os números ou os bonecos - a coscuvilhice não conseguiu descortinar - das duas "raspadinhas" estacionadas no seu lado direito. A mão esquerda imita a do companheiro e "dá-lhe" o café.
Tudo à sua volta é ignorado. Só há olhos para os jogos, um, virtual, que dá gozo, e o outro, real, que pode trazer uns trocos e, por isso, também algum gozo.
Não há mais espectáculo. O café bebido de forma rápida, como é costume. Regresso rápido a casa que o céu, negro, ameaça trazer de novo a chuva, com a intensidade com que já caiu hoje. O chapéu não veio e não há horta nas costas ...
Faz alguma confusão mas ... são os tempos modernos e a actualização dos interesses. Só a chuva se mantém igual!
2 comentários:
Chuva….cada vez menos. Tempos modernos.
Como duas miradas dão um belo texto.
Há quem não repare no que por vezes está tão perto dos nossos olhos.
Parabéns!
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