sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Gaivotas ...

... em terra, temporal no mar.

A rotunda tem uma fonte enorme, redonda, com azulejos a cobrir a parede da zona que armazena a água e de onde a mesma parte para criar efeitos incolores durante o dia e luminosos mal o sol se põe. Divide, ou une, dois bairros característicos da cidade - Ponte e Arneiros - e por ela muito trânsito flui, às vezes com bastante dificuldade, pelos diversos e estratégicos itinerários que proporciona.

Até há pouco tempo, os únicos visitantes alados eram alguns melros mais afoitos e um ou outro pardal que aproveitava a água para se dessedentar e a relva para penicar. Agora, porém, tem muitos habitantes fixos, emigrados da Foz do Arelho, que olvidaram ou não querem fazer o caminho de regresso. Dela fazem o seu mar e por ali se quedam, dormindo nos postes de iluminação. As inúmeras gaivotas exercitam a sua capacidade física por toda a cidade, acima dos telhados, e depois descansam na relva e na água da fonte.

Estão de tal forma habituadas ao novo poiso que terão perdido o sabor salgado da água do mar, a sensação da areia debaixo das patas e o prazer gastronómico dos peixes que os seus bicos surripiavam à lagoa e ao mar. Agora, de acordo com os novos tempos, vão-se abastecendo no takeaway dos benfeitores dos gatinhos, que deixam as bolinhas de ração em sítios estratégicos, sendo que grande parte delas, bolinhas, nunca chegam a descer pela goela dos bichanos a quem eram destinadas. As gaivotas, em voo picado, encarregam-se de, rapidamente, fazerem desaparecer o pitéu que mãos e corações preocupados queriam que alimentasse os gatos sem abrigo.

"Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma - Lavoisier"

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