O impulso tido e aqui referido deu-se em boa hora. Valeu a pena ler um relato de viagens romanceado, do século XIX, de autor pouco referenciado, que escrevia maravilhosamente.
"(...)Pois este?! Este é o padre <<galopino>> e chamam-lhe assim porque passa o seu tempo todo a galopar, a correr por todos os sítios onde há jantar de bodas ou enterro, e oferecendo-se para dizer missa barata contanto que vá depois para a mesa. À noite está ele sempre à porta de algum botequim ou ao pé do correio com outros amigalhaços de igual feição, indagando o que há de novo a respeito de consórcios e de exéquias, e perguntando à sua gente:
- Então amanhã que patuscada temos?
E aquele, aquele?! Isso é que é um reinadio. Não há vivalma que o não conheça, e ele também paga na mesma moeda ao género humano porque conhece toda a gente. É quem preside nas reuniões dos padres da província, que vão à cidade tratar dos seus negócios, e quem agenceia que eles jantam nalguma casa conhecida onde se coma bem. É a alma de uma função, este reverendo! Aquilo tem graça às pilhas, e fala pelos cotovelos. Sabe tudo. É um regalo ouvi-lo discorrer a respeito da lotaria, dos sonhos que teve a noite passada, dos números maus e dos números bons, e de muitas outras coisas não menos edificantes. Até já de uma vez quis fundar uma academia cabalística, que tratasse de elevar o livro dos sonhos à altura dos progressos da ciência!...
A mim explicou-me isto tudo um homem com quem eu me encontrava frequentemente a jantar na casa de pasto <<Isola bella>>, e dizendo-lhe eu pasmado:
- Como sabe o senhor tanta coisa a respeito dos padres?
- Não adivinha! - respondeu-me ele.
- Não.
- É que eu mesmo, que lhe estou falando, também já fui padre!
- Ah!
Uma coisa, em todo o caso, têm eles de bom, que é não se oporem a que cada um ame à sua vontade. Podem repreender tudo, mas não consta que acusassem nunca o amor.(...)"
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