segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Santo Antão

O monte é bastante alto, quase tanto como a torre de menagem do castelo de Óbidos que, sobranceiro, o olha com algum desprezo durante todo o ano e se rende à sua importância no dia de hoje. No cimo existe uma pequena capela, dedicada a Santo Antão, protector dos animais.

A 17 de Janeiro muita gente sobe o monte, para pedir e/ou agradecer ao Santo as benesses ou milagres que lhe foram proporcionados ou que anseia desfrutar, ou simplesmente para se deliciar com o chouriço assado e as pingas que o acompanham.

O casal, de pequenos agricultores, fazia a caminhada anual pela vertente da encosta e, lá em cima, assentava arraiais junto a uma pedra que protegesse a fogueira do vento norte e permitisse a assadura sem problemas do chouriço caseiro, embrulhado em prata para não se queimar. Enquanto o marido providenciava a lenha para a fogueira, a mulher arrumava o espaço, montava as duas cadeiras que lhes tinham feito companhia pelo monte acima e iriam oferecer-lhes o conforto imprescindível para saborear o petisco. 

Assim que o homem começava a acender a fogueira, a mulher dirigia-se à capela para depositar as miniaturas do porco ou da vaca, ou dos dois, feitas de cera, lembrando ou prevenindo as doenças que tinham vindo ou podiam vir.

- Eu não acredito em nada disso, mas é melhor ires lá dar isso ao Santo. Não custa nada ...

Promessa cumprida, chouriço comido, vinho bebido, o sol a pôr-se, dia terminado, regresso a casa pelo monte abaixo, com muito cuidado não vão as pernas trair o equilíbrio e os corpos chegarem lá abaixo sem ninguém os conseguir parar. Hoje seria o dia da romaria do Santo Antão e, mais coisa menos coisa, aconteceria algo parecido com isto.

Não aconteceu e o ano passado sucedeu o mesmo. Talvez para o ano ...

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