quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Chove?

- Vai chover!

Era a expressão utilizada pela minha mãe assim que ouvia a música, sempre a mesma, do amola tesouras.

- Amola tesouras!

- Conserta alguidares e chapéus de chuva!

Era uma figura ou um figurão, não sei bem. Deslocava-se numa bicicleta especial que, estacionada num cavalete incorporado, tinha condições para que os pedais movimentassem a correia ligada à pedra de esmeril e tornassem esta o instrumento necessário à função. Era nessa pedra que as facas, as navalhas, normais e de barba, as tesouras, de poda ou de costura, eram afiadas e ficavam um brinquinho, quer na capacidade de cortar quer no aspecto.

Para além dos utensílios cortadores, consertava chapéus de chuva, recolocando as varetas no lugar devido e atando-as bem melhor do que vinham da origem. Vareta consertada pelo artista dificilmente se tornava a partir ou a sair do lugar.

Por fim, os alguidares e quaisquer outros recipientes de barro, das canecas aos tachos, dos púcaros aos pratos. Mesmo com várias "fracturas", eram recuperados à custa dos "gatos", estrategicamente colados, depois de colocados a apanhar as duas partes afectadas. Os "gatos" eram uma espécie de agrafes em ferro, com tamanhos diversos, consoante a dimensão da peça de barro carente de salvação.

Trabalho executado, bicicleta descida do cavalete e regressada à posição normal, o amola tesouras ia procurar outro cliente, tocando, na sua gaita ou flauta de pã, a melodia de todos conhecida como anunciadora da chuva.

Talvez seja altura de recuperar algum amola tesouras que por aí ainda ande esquecido e pedir-lhe que toque na gaita, para ver se chove!

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