domingo, 20 de fevereiro de 2022

O tempo e os livros

Ao contrário da grande maioria dos portugueses, de acordo com os resultados de um inquérito promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian e recentemente divulgado, leio todos os dias e todos os dias confirmo que não vou ter tempo para ler tudo o que tenho em casa, mais aquilo que já saiu e não adquiri, mais o que irá ser editado e não deveria ser perdido, mais ainda o que existe de bom e que desconheço.

Para agravar ainda mais, há livros que demoram a ler, por mais esforçado que se seja. E, para complicar ainda mais, o cérebro já não aceita ler dois ou três em simultâneo, como acontecia antigamente. Ler um livro de 750 páginas, como tem o que agora me acompanha - Os doentes do Doutor Garcia, de Almudena Grandes - não é possível em dois ou três dias, pelo menos para mim.

Conclusão: o tamanho da pilha aumenta, e mantém-se a mania de comprar. O espaço ocupado na secretária já é significativo. Podia colocá-los nas prateleiras (onde as vagas são exíguas) e ter a lista à mão, para os ir buscar quando chegasse a sua vez, mas não era a mesma coisa. Assim, vou conversando com eles, transmitindo-lhes a justificação, que aceitam humildemente e sem qualquer contestação:

- A seguir és tu

E por vezes não é, porque outro se insinuou e foi escolhido primeiro.

- Há-de chegar a tua vez, descansa

A pilha vai aumentando e o tempo ... diminuindo. A vontade, essa, mantém-se firme e concretiza-se enquanto os olhos o forem permitindo. Às vezes choram. Não quero perceber se estão emocionados com o que lêem, ou se é mesmo cansaço. Ah! E sempre em papel. Manusear o livro faz parte do ritual para o (tentar) compreender.

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