sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Diminutivos carinhosos

- Aqui mora o senhor Chiquinho S..

Chiquinho?! Era um velho que ali morava, com a mulher. Já várias vezes o tinha visto, muito embora não estivesse por ali há muito tempo. 

- Esteve na América muitos anos, tem lá os filhos e os netos e voltou agora para gozar cá a reforma.

Era a conversa dos que tudo sabiam, que acrescentavam terem os filhos por lá uma boa vida e que o velho recebia, todos os meses, uma "bruta reforma".

- Todos os meses o carteiro lhe entrega um cheque vindo de lá. Deve ser bem gordo.

Chiquinho? Como é possível? Os "inhos" estão reservados às crianças e não a todas. Há alguns, como o Agostinho, amigo do Carlinhos, que os tem por toda a vida, mas são excepções. Chiquinho? Um homem com aquela idade? Ainda se fosse "menino Chiquinho", como alguns a quem o sangue garantia serem meninos toda a vida. Mas "senhor Chiquinho"? Não se compreendia ...

Por vezes, havia temporadas de dois, três meses, que na casa não havia vivalma.

- Foram ver os filhos e os netos, diziam os entendidos que tudo sabiam. 

E devia ser verdade. Iam recordar tempos idos, agora sem obrigações, como convém a quem já passou o tempo de obrar. Chegou o Verão e a casa permaneceu fechada. Não tardou a chegar a notícia dos sabedores:

- Já morreu o senhor Chiquinho S.. Tinha lá o seu feitio mas, no fundo, no fundo, até nem era mau diabo. Por lá ficou, se calhar contra a vontade dele.

Teve sorte! Nasceu Chiquinho e foi-o até morrer.

Passei por lá há pouco. A casa já não é a mesma e do Chiquinho S. só se lembrarão alguns velhos. Mas porque me lembrei eu disto?

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